Tão importante quanto seguir em frente, é saber deixar pra trás
Tenho um tio muito querido que é um nostálgico compulsivo. Adora
tomar seu vinho ao som de Nat King Cole, Billie Holiday e Frank Sinatra,
enquanto nos remete aos idos de nossa infância e à lembrança de um
tempo bom. Estar ao seu lado é uma festa saudosa, que invariavelmente
traz de volta um pouquinho do que éramos e de como nos sentíamos juntos.
Porém, outro dia, conversando com uma amiga, falávamos sobre a
necessidade de seguir em frente. E sobre o quanto isso implica deixar
certas coisas, lugares, pessoas e momentos para trás.
Porque não basta abrir as portas para o novo tempo. É preciso
fechar algumas janelas também. E talvez fechar algumas janelas seja a
parte mais difícil de seguir em frente…
Como deixar partir fragmentos do que fomos ao trancarmos nossas janelas?
Talvez a resposta esteja na vivência do luto. É preciso respeitar a
dor do fim de um tempo, mesmo que novas portas (muito melhores) estejam
se abrindo à nossa frente.
É preciso deixar partir a infância dos filhos, o fim de um
relacionamento que parecia perfeito, as amizades que não tinham vínculos
muito sólidos, as palavras de amor que não vingaram, a própria
juventude, o corpo perfeito, o tempo bom de faculdade, a saúde de nossos
pais.
Diante da finitude, temos que aprender a seguir em frente sem olhar pra trás com saudosismo ou sofrimento.
É preciso coragem para queimar cartas antigas que perderam espaço em
nossa memória afetiva, deixar abrigos conhecidos onde não nos refugiamos
mais, dar chances à novas possibilidades de felicidade.
Nem tudo resiste ao tempo. Agarrar-se ao que não existe mais não permite que novas chances se revelem.
O ouvido se habituará a novos sons se a gente deixar que ele escute novas canções.
Assim também aprenderemos a aceitar o novo tempo se facilitarmos o
começo de novas possibilidades e entendermos que não há mais o que se
esperar daquilo que já passou.
Não há o que se esperar do passado. Ele aconteceu, foi bom, ficou vivo dentro da gente, nos fez feliz… mas passou.
Que permaneçam as boas lembranças, não o desejo de perpetuar vapores de um tempo que não floresceu.
Que os álbuns de fotografia em sépia sirvam para nos lembrar os
sorrisos e sonhos que tínhamos, mas não substituam a alegria de nos
relacionarmos com quem está ao nosso lado aqui e agora.
Descobrir que, tão importante quanto seguir em frente, é saber deixar pra trás.
Vivendo um luto de cada vez, aprendendo a desistir um tanto do que
éramos para abrir espaço para quem nos tornamos; acreditando que uma
vida abriga inúmeras fases, e para vive-las com sabedoria é preciso
resgatar o novo e abandonar o velho; sendo tolerante com alegrias novas
que querem chegar, e permitindo que nos mostrem o que podem fazer por
nós.
Nem sempre é fácil reconhecer que um tempo chegou ao fim. Insistimos
em reviver antigos papéis, trazer à tona emoções que se esgotaram,
resgatar pessoas que já partiram há muito tempo de nós.
Cada um encerra seus ciclos de forma diferente, e é preciso respeitar o tempo de cada um.
O presente te escolheu. Tenha a sabedoria de escolhê-lo também…
Por Fabíola Simões
Cada um encerra seus ciclos de forma diferente, e é preciso respeitar o tempo de cada um.
O presente te escolheu. Tenha a sabedoria de escolhê-lo também…
Por Fabíola Simões
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